Feira de abobrinhas
Feiras diárias. Coisa que não acontece em cidade alguma. De interior algum. Nós, brasileiros, temos; dentro de nossas casas, na hora em que for mais conveniente, na hora em que menos precisarmos. Uma pena que o produto seja sempre o mesmo: abobrinha. Esta é a triste realidade que somos obrigados a assistir diariamente. A programação das nossas emissoras de televisão beira o inconveniente. O significado de entretenimento foi esquecido pela maioria dos profissionais que fazem televisão. Não existe mais diversão. Aliás, são raros os momentos agradáveis em frente a TV.

É triste que tenhamos que acordar vendo notícias de desgraças. É mais triste ainda termos que ir dormir vendo programas mal produzidos, mal apresentados e com conteúdo de gosto duvidoso. Isso sem falar na programação de fim-de-semana. Uma tristeza só! Por onde é que anda aquela criatividade que existia há dez ou 15 anos? Não vão me dizer que juntar a família no sofá para assistir cassetadas é tão ou mais divertido do que a reunião dos sábados ou domingos, depois do almoço, para assistir a algum programa de auditório com conteúdo, com entretenimento de verdade.

O que os profissionais da televisão de hoje entendem por entretenimento está distorcido. Acham que desfile de roupa íntima é a melhor coisa para se ver à noite. Durante o dia, e principalmente nos finais de semana, qualquer bobagem rende dois, três blocos inteiros do programa. Se não uma edição especial, comemorativa, de homenagem ou algo assim. A briga pela audiência humilha o telespectador. A luta por pontos e publicidade leva a apelos. Como se não bastasse toda desgraça que espirra até pelas ventas dos apresentadores de telejornais, ainda somos obrigados a assistir casos tristes nos programas que deveriam entreter. O que importa é promoção. Acho que os papéis estão se invertendo: programa jornalístico informa, com precisão, qualidade, profissionalismo, seriedade, ética. Programa de entretenimento distrai, diverte, faz sorrir, brinca, interage. Mas deveria fazer isso com inteligência. E não faz. É aí que está o problema.

A falta de inteligência na televisão é só mais um caso. No Brasil como um todo falta preocupação por toda parte com o público. A televisão não se preocupa, as lojas não se preocupam, as pessoas não se preocupam umas com as outras, os políticos então... nem aí. Este é o preço que pagamos pela falta de investimentos em educação no nosso país: falta de qualidade, falta de preocupação, visões distorcidas, papéis invertidos, público passivo, apelos. Inteligência não é só bagagem cultural. Inteligência é humildade, é qualidade, é seriedade, ética. Educação. É isso que falta ao Brasil.